Os pais queixam-se de não terem respostas para os seus filhos quando estes têm necessidades educativas especiais.
Esta é uma questão que "num plano de direitos
humanos e do ponto de vista social e cultural já não é aceitável”, diz
Sara Martins, membro da direcção da Dar Resposta e mãe do Guilherme, um
jovem de 13 anos com autismo. Embora a oferta para os tempos livres dos
mais novos cresça, as férias das crianças com necessidades educativas
especiais (NEE) continuam a ser uma realidade à parte. E o problema é
"essencialmente cultural", reforça a mãe.
“Há pessoas que acham
que entre as necessidades especiais não constam os campos de férias”,
diz o psicólogo e docente do IPSA- Instituto Universitário José Morgado,
já com experiência de 40 anos em educação inclusiva. Ponto com o qual
Sara Martins concorda relembrando que actualmente se assiste “a uma
falta de consciencialização de que estas crianças e jovens têm o mesmo
direito que os outros a aceder a este tipo de pedidos”, para além do
facto de que problemas logísticos nas férias todos os pais têm.
Então,
por que têm de perguntar os pais destas crianças se aceitam os seus
filhos quando nenhum outro pai o tem de fazer? “A dificuldade da
inclusão numa actividade de Verão é proporcionalmente directa à
dificuldade que nós, pais, vivemos no reivindicar e fazer valer a
inclusão dos nossos filhos noutros contextos”, como por exemplo, na
escola, explica Sara Martins.
Armazéns sem inclusão
Ainda
assim, David Rodrigues, docente na Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade Técnica de Lisboa e presidente da Pró-Inclusão – Associação
Nacional de Docentes de Educação Especial, relembra que a organização
de actividades por parte de associações que lidem com a deficiência é a
“comprovação da dificuldade que os pais têm em colocar os filhos em
contextos inclusivos”. E esta oferta é a solução que estas entidades
encontram para aliviar os pais, acabando por ser, muitas vezes, as
únicas hipóteses que têm.
Contudo, chegadas as férias, as famílias
continuam a perguntar às organizações das actividades e campos de
férias se aceitam os seus filhos e a resposta continua a ser um redondo
“não”. Grande parte desta não-aceitação deve-se ao facto de as entidades
pensarem tanto numa readaptação do seu plano de actividades como na
inclusão de exercícios terapêuticos. E, no exacto momento em que estas
mudanças são feitas, a actividade deixa de ser inclusiva.
Poderá
ser necessária uma mudança de pensamento, que actualmente já é visível
em algumas iniciativas. O jovem Guilherme já esteve num campo de férias
onde fez canoagem,
slide,
rappel e outras actividades.
"Se calhar não fez a quantidade de vezes que os outros fizeram, mas
houve o cuidado de criar o ambiente propício para que experimentasse. A
adequação muitas vezes passa por isto, não passa por ter actividades
diferentes”, conta a mãe Sara Martins, dizendo ainda que não se pode
esperar que as crianças, com ou sem necessidades especiais, experienciem
as actividades da mesma forma.
Vera Fernandes, membro da
administração da sede da UPAJE- União para a Acção Cultural e Juvenil
Educativa, menciona que nos campos de férias por eles organizados,
sempre que possível, estas crianças fazem as mesmas actividades que
todas as outras. “Claro que com um maior número de adultos a apoiar as
crianças”, acrescenta.
Por Patrícia Pinto da Silva em Público,pt